Pinturas | O Propósito
Por Emanuel von Lauenstein Massarani, crítico de arte, escritor, diretor geral do Museu de Arte do Parlamento de São Paulo
As obras de Carlos Araújo não se concluem onde termina a pintura, elas continuam. Elas parecem ter nascido antes de serem pintadas. É justo, pois, que vivam também além da superfície estrutural. Um sopro espiritual e etéreo envolve suas criações. Trata-se de um sopro que inefavelmente continua muito além.
Ao observarmos sua pintura não nos perguntamos o que é, mas quem é seu autor. Carlos Araújo é um artista além de sua obra. Seu trabalho não é tão somente para ser visto. Não pode ser julgado como o olhamos ou como se julga uma pintura nascida diretamente do olhar, da pincelada, da cor, das relações dos tons. Cada uma de suas obras nasce como nascem os mundos. Cada obra é um mundo à parte. Podemos julgar o mundo?
Seu discurso possui um grande impulso criativo que se adequa à natureza onde o sentimento permanece aquém da emoção. O movimento emotivo precede a interpretação, domina a escolha do tema, seleciona os dados que permeiam a esfera da congenialidade à sua sensibilidade artística.
Inspirando-se na técnica do "glacis", através da aplicação e superposição de uma série de camadas de cores finas, Carlos Araújo consegue um cromatismo extremamente sutil e vibrante. E, como resultado, alcança uma visão sobrenatural com diversas dimensões e profundidades.
Frente a suas telas nasce uma nova relação que é, antes de tudo, uma segurança interior das motivações a serem alcançadas. Os seus temas bíblicos são escolhidos com profunda e religiosa pesquisa, o que revela como a expressão pictórica, tem na base a inspiração Divina.
Na obra "Estudo para uma figura biblica", doada ao Museu de Arte do Parlamento de São Paulo, a imagem constitui um relato expressivo e representação vigorosa das passagens mais representativas das Sagradas Escrituras. Não há duvida que o espírito criativo e a grandeza da obra fazem de Carlos Araújo, o Michelangelo do novo Milênio.